quarta-feira, 23 de maio de 2018

Capitalismo de quadrilha no Brasil - Sugestão de Leitura


A corrupção organizada adonou-se da atividade pública em todos os níveis de governabilidade. É chocante assistir pela mídia os tentáculos da ação de ladrões do dinheiro público. Travestidos de políticos, agentes públicos e empresários espertos. Presentes no saque ao poder público em todas as regiões brasileiras: prefeituras, governos de Estado e a partir de Brasília, no poder federal. Os fatos que vem sendo documentados são de fazer a indignação e a vergonha invadir a alma dos cidadãos honestos. A corrupção passou a ser política de Estado. O contubérnio entre agentes públicos e privados, na logística de assaltar os recursos públicos, ultrapassou o limite do imaginário. E o mais grave: o desenvolvimento é atingido mortalmente, ampliando a pobreza e afrontando a dignidade humana. Os corruptores e corruptos são verdadeiros genocidas na vida da nação e quando flagrados se declaram inocentes, subestimando a inteligência da sociedade.

Governadores denunciados aos magotes, alguns sendo presos e a multiplicação de delitos nas administrações se expandindo. Prefeitos afastados e condenados, ministros e ocupantes de funções públicas sendo apontados como desvairados corruptos. No poder legislativo, o elenco é vastíssimo nas Câmaras municipais, Congresso Nacional e Assembleias Legislativas. No epicentro estão empresários e grupos econômicos levando vantagens no assalto aos recursos públicos. Fortunas feitas e multiplicadas por estes delinquentes de luxo, pela obtenção de vantagens estatais ao largo do território nacional.

Na República da propina, o dinheiro sujo prevalece e a trapaça econômica e financeira, no âmbito do Estado, atingiu nível escandaloso. Não fica uma área da administração pública que não seja vítima da corrupção. Ainda agora os fundos de pensão de empresas públicas (Funcef, Portalis, Serpro) e de sociedades de economia mista (Previ e Petros) são atingidos por fraudes milionárias. No caso da Petros, da Petrobrás, o rombo no seu patrimônio é de R$ 27 bilhões. A situação geral é tão grave que levou a Receita Federal a criar uma “tropa de elite” para investigar 800 agentes públicos.
Nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário a investigação se ocupará dos crimes de lavagem de dinheiro, ocultação de bens e acréscimo patrimonial incompatível com a renda. O fisco possui um banco de dados onde pode mapear as movimentações bancárias, vendas de imóveis, contratação de autônomos, movimentação de cartão de crédito e todo tipo de dados sobre pessoas físicas e jurídicas. É um avanço indiscutível, já que esses poderes sempre foram privilegiados em termos de fiscalização tributária. Exemplificado no fato de existirem 200 mil casos de integrantes dos três poderes cujos dados fiscais remetem a indícios de fraudes.

É uma avalanche imoral na arte de roubar o Tesouro Nacional. O cardume de tubarões corruptos construiu no Brasil um “propinoduto transoceânico”. A “propina” institucionalizada edificou na captura do Estado um duto que liga os oceanos Atlântico e Pacífico. É de se louvar as várias operações envolvendo Polícia Federal, Ministério Público Federal e Receita Federal, marcando pontos positivos. O que tem forçado e levado bancos, corretoras de valores e seguradoras e o Coaf (Conselho de Controle das Atividades Financeiras) a identificar os grupos de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Fornecendo aos órgãos de investigação elementos comprovadores de ilegalidades nas suas, até então passivas, movimentações financeiras. O Banco do Brasil vem de firmar acordos de cooperação internacional com a Interpol relacionado a crimes financeiros.

Estas investigações vêm demonstrando a existência de uma elite de políticos, agentes públicos e grupos econômicos que só tinham um objetivo: assaltar o dinheiro público com velocidade de fórmula 1. O caminho será longo, mas extirpar “partes do câncer da corrupção sistêmica” é grande esperança dos brasileiros. Oxalá essa cruzada pela moralidade pública não seja interrompida pela mobilização das corporações. Os valores republicanos não podem admitir, nem aceitar, essa prática de roubo impunido. O nome verdadeiro desse triste momento da vida nacional é capitalismo de quadrilha.         

Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira.



Leia também o artigo de Luiz Claudio Nogaroto: "A gente da um jeitinho..." - O Ciclo da Impunidade



Pré-candidato a Deputado Federal por São Paulo, Luiz Claudio Nogaroto nasceu em Tremembé e reside em Taubaté, municípios do Vale do Paraíba, interior de São Paulo. Formou-se em Engenharia Mecânica, com pós-graduação em Carreiras Públicas. Iniciou sua carreira na administração pública em 2002 e desde 2011 exerce o cargo de Auditor-Fiscal da Receita Federal. Em 2016, iniciou sua atuação na força-tarefa da Operação Lava Jato. Em paralelo, Nogaroto atua como professor e coach para concursos públicos em todo país.



0 comentários:

Postar um comentário